Pensando sobre o futuro.

Quando eu decidi fazer engenharia civil aqui eu tive a ideia brilhante que queria uma profissão onde os empregadores corressem atras de mim; a muitos anos atras eu percebi que Historia e uma furada, e que cansei de receber proposta indecente pra trabalhar de graça ou ganhar R$ 3.50 por hora (isso ae, ja recebi oferta de emprego nesse nivel no RJ). 

Depois de uns anos estudando Ingles e me sentindo mais confortavel com a lingua chegou a epoca de começar a faculdade propriamente dito. Escolhi estudar em um Community College, por que depois de anos estudando na area de humanas cair de paraquedas em aulas de pre-calculus em uma universidade não seria muito facil. Pelo menos os Community Colleges são mais proximos a uma aula de escola, onde o professor explica, tem trabalho de casa, tem direito a office hours pra tirar duvidas bestas. Graças ao C.C. to indo (não sei pra onde).

Então ta chegando a hora de transferir pra uma outra faculdade pra cursar os ultimos anos, ja escolhi as que vou aplicar e ta me dando uma mega duvida se escolhi bem. Eu to ate gostando, mas eu moro em NY e nunca ninguem vai correr atras de mim pra me dar emprego, afinal aqui e a cidade que voce acha de tudo, inclusive concorrencia pesada pra qualquer emprego. Sem falar no preconceito que existe com pessoas da America Latina, e no machismo contra mulheres nessas areas de tecnologia. 

Eu ja fui em duas feiras de transferencia e nas duas eu passei raiva. Eu tenho 3 universidades aqui em NY em mente, fui na mesa da primeira pegar informaçoes, a primeira coisa que o cara me falou foi que engenharia e dificil e preciso ter um GPA minimo de 3.2 pra aplicar. Eu fui a unica mulher que fui no stand tirar duvidas(bem pelo menos naquele momento), pra todos os garotos que paravam la o representante da universidade so falou das vantagens, ele não falou nada do GPA, ele não falou nada de como o curso e dificil. Sai meio triste pelo machismo dele e segui pro segundo stand. 

No segundo stand o cara tentou me ignora (parece que se voce não for homem não merece a atenção deles) ai minha paciencia acabou e comecei a ser bem grossa e falar mais alto. Ele tentou se livrar de mim dizendo que eles so aceitam estudantes com o GPA minimo de 3.2 e 18 creditos e assim depois dessa delicadeza toda virou as costas pra falar com outros meninos que se aproximavam.  Para eles o mane era so sorrisos e so falava das vantagens de escolher aquela universidade. Ate que parou outra garota, e ele ignorou, e quando não pode mais deu a mesma informação dos requerimentos minimos pra aplicar. Essa faculdade era minha escolha numero um pra transferir então fiquei por ali tentando descobrir algumas informaçoes por conta propria. Nesse tempinho caiu a ficha do absurdo que era receber um tratamento desse jeito so por que eu era mulher; como meu lado impossivel não aguentou tive que perguntar em tom de deboche (maturidade a gente não ve por aqui) por que ele dava informaçoes para os garotos e para as meninas so as exigencias?  A cara dele meio que mudou e ele tentou ser mais simpatico, mas sabe a vontade de estudar com eles diminuiu muito.

No ultimo stand era uma mulher e foi a unica que me recebeu bem e me falou sobre a universidade em vez de me falar sobre o GPA. Sai da feira me sentindo meio mal sabe. Lembrei da professora de calculus 2 que não gostava de "não" brancos e fez minha vida um inferno so por causa da minha cor de pele e do sotaque que eu tenho. Desde então eu tenho me perguntado se eu não deveria ta fazendo meu PhD em Historia em vez de tentar outra faculdade. Esse e so o começo e ja dando pra ter um "gostinho" de uma realidade que ninguem merece passar, ou eu to exagerando por conta da preocupação com o futuro. 

Acho que deve ser normal se questionar sobre nossas escolhas de vez em quando, mas eu tenho panico de depois de tanto sacrifio e esforço pra pagar a faculdade e me formar, dar com os burros n`agua por que sou mulher, por que to "velha" pro mercado de trabalho, por que sou da America Latina...Como jogar tudo pro alto e mudar pro Shire não e uma opção, eu sigo a passinhos de formiga com o meu plano, mas que a cabeça anda um turbilhão de pensamentos e um certo medo me tira o sono de vez em quando não posso negar. E vez por outra me pego pensando como seria a vida no Brasil se eu tivesse ficado por la, ou como seria se eu voltasse...

Sei la a gente não tem bola de cristal pra saber o futuro e não temos certeza de nada nessa vida, eu tento e oro pro melhor acontecer...ou eu sou exagerada e tenho mania de analizar demais tudo....E como o Socrates diria...So sei que nada sei.

Beijinhos